Por Casé Angatu

POR ISTO CONTINUAMOS DIZENDO: “A ÚNICA COPA QUE NOS INTERESSA É A DAS ÁRVORES”1794518_10152229771649198_1098715627_n

(Leitura de um discurso classista que representa os novos, mas já velhos ricos jogadores da seleção brasileira de futebol. Para nós: “NÃO VAI TER COPA!”)

 

No mês passado (abril/2014) durante as mobilizações do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MTST perto da denominada Arena Itaquera – Itaquerão (São Paulo/SP) membros de uma das torcidas organizadas (aqui não importa qual torcida, time e paixão futebolística) colocaram-se contra aquele movimento social e ameaçaram dizendo: “ninguém iria colocar em risco o nosso patrimônio (…) que façam manifestação longe daqui”. Agiram como seguranças de um “patrimônio particular”, feito com dinheiro público do povo brasileiro.

 

Estes torcedores atuaram como os antigos e renovados capitães do mato, feitores, capatazes e todas as outras derivações que surgem de cargos de chefias e/ou cooptações feitas pelos poderes públicos (assessores, vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores e presidentes), bem como nas relações sociais e nos ambientes de trabalho (os chamados cargos e progressões de carreiras). Não que todos ao ocuparem tais cargos esqueçam suas origens.

 

As chamadas arenas (preferia campo de futebol porque ao menos lembrava que é preciso a terra e natureza) são: palcos de alguns dos maiores escândalos financeiros (envolvendo a milionária e monopolista Odebrecht, entre outras empresas); espaços de violência/limpeza social da especulação mobiliária pela expulsão de antigos moradores no entorno; demonstrações do descaso com que são tratados os trabalhadores nacionais, especialmente os da construção civil, porque lá morreram operários e até agora nada foi apurado (na minha opinião: nem será). Olha que nem iremos comentar sobre as mentiras relativas às “heranças depois da copa” e o futuro quadro de recessão vindouro.

 

Engraçado que lembramos de uma passagem do livro “Germinal” (também do filme de mesmo nome – Direção Claude Berri/1993) de Emile Zola quando, num dos diálogos, um anarco niilista (uma das formas do anarquismo) adverte do perigo da reprodução do sistema (autoritário e excludente: capitalista) pelos próprios trabalhadores que lutam pelo “direito de ter sua propriedade” e não pela coletivização dos bens, por uma sociedade igualitária e libertária.

 

Em nosso caso é inevitável não recordarmos aqui também de Michel Foucault porque ponderamos sobre algumas das análises deste autor quando tratamos das diferentes formas de poder. Lembramos de como as “microfísicas do poder perpassam pela rede social”, incluindo aqueles que de origem despossuída desejam e/ou passam a possuir algo: os capitães do mato.

 

Neste interim é que pensamos a fala do ex-jogador Ronaldo (linkada no final deste texto) e conhecido como “fenômeno” presente no título do presente artigo. Falamos em “conhecido como fenômeno” (entre aspas) porque nossos olhos e imaginário estão povoados pelas cenas que voam da arte do futebol de artistas como Garrincha (de origem indígena). Mas não discutiremos aqui a arte do futebol e sim o que os novos ricos (chamados jogadores da seleção) representam, sempre na nossa opinião.

 

A maioria, pelo menos desta seleção, não se posiciona sobre nada do que acontece no Brasil e no “restante” do mundo. Ou melhor: ao não se posicionar já estão tomando posição. Como diz o ditado: “quem cala consente; ainda mais quando tem poder da fala”. Portanto, pensamos que é equivoco dizer que são jovens, muitos de origens humildes, sem estudos e por isto “alienados”. Pode ser que sejam manipulados, mas alienados não acreditamos. Dizemos isto até porque conhecemos e fomos jovens, origens humildes e sem estudos, mas “não alienados”.

 

Encontramos estes jogadores, pelo menos o que nos apresentam a mídia, somente nas: chamadas “arenas”; vendendo ricas propagandas (grifes, carros etc); apresentando-se em vazios programas e páginas futebolísticas (com exceções); em sites de “socialite” (namoros, contratos milionários, etc).

 

Apesar de praticarem um esporte popular que deveria ser cheio de vida, aparentemente, escondem-se da vida e das pessoas do povo Parecem acéfalos sociais e culturais e isto não é casual. Aparentam soldados de uma “pátria de chuteiras” (ou seriam soldados de chuteiras de pratas) cujas funções são: ganhar o campeonato, enriquecer a si mesmo e seus patrocinadores.

 

Mas realçamos: é equívoco pensarmos que jogadores como Ronaldo não pensam. Aliás, perguntamos: é possível pensar que alguém não pensa, apesar de muitos parecerem não querem utilizar este exercício?

 

Jogadores (ex-jogadores) como o “fenômeno”, Neymar, entre outros, pensam sim e muito. A postura deles é comprometida com a classe/grupo social que pertencem neste momento de suas vidas: são homens ricos, apesar da origem humilde; são pessoas ricas que vivem com seus pares. Existem jogadores que até fazem “obras sociais” como uma espécie de “dor na consciência”, mas ao se manterem calados preservam as mesmas injustiças. O discurso e o posicionamento destes jogadores, incluindo de Ronaldo, é classista.

 

Os que destoam e voltam aos seus lugares de origem social e/ou não perdem seu “jeito de ser” são desclassificados: chamados de “jogador problema”. Engraçado porque são justamente os que mais gostamos (pense você em alguns deles). Entre o craque Pele que virou rei (“bom moço” e adaptável à sua nova classe) e o craque irreverente/sem regras chamado Garrincha: a maioria da mídia venera o primeiro. Venera-se a riqueza do futebol e socioeconômica do rei. Futebol que possibilita pessoas humildes, como Pele, “ser alguém na vida”.

 

Chamam mesmo o futebol como: esporte mais democrático de todos por permitir que pobres meninos fiquem ricos. Fosse assim, como aqui é chamado “país do futebol”, a maioria dos boleiros brasileiros seria de “bens sucedidos” jogadores na democracia futebolística nacional: surgiria então uma nova forma de democracia a “democracia futebolística”.

 

Ronaldo, talvez ainda por estar em treinamento no “mundo da arena política” (uma das missões do novo treinador Aécio Neves – PSDB – é prepará-lo; uma vez que o treino oferecido pelo PT não conseguiu ensinar tudo, aliás, mudou-se de técnico e time, mas não de jogo), expressa o que ele e sua classe/grupo social sente. Ainda destreinado na dissimulação política e como se fosse um capitão do mato, diz Ronaldo: “sobre os vândalos, acho que tem que baixar o cacete neles, tirar da rua” (entrevista à Folha de São Paulo).

 

Resta, por fim, saudade de Garrincha e Sócrates que nos fizeram respirar ares de liberdade. Garrincha com sua arte libertária de jogar futebol, não se prendendo à regras dentro e fora dos campos. Sócrates que com seus calcanhares atingia os de Aquiles (ditadura militar) entre o findar a década de 1980 e início dos anos de 1990. Ambos nos fizeram crer, em conjunto com muitos, que iriamos tirar as chuteiras da pátria e brincar de futebol descalços nos campos/gramados/terras.

 

Caso alguém pergunte se irei (agora na primeira pessoa) torcer para seleção … respondo:

“Vou não!
Não sou rico e nem torço pra rico!
Você acha que vou torcer para uma seleção que representa um país/estado/nação que não me representa!Além do mais sou Índio!A ÚNICA COPA QUE ME INTERESSA É A COPA DAS ÁRVORES!”

 

DEMARCAÇÃO JÁ DE TODOS OS TERRITÓRIOS INDÍGENAS E FIM DA CRIMINALIZAÇÃO/VIOLÊNCIA CONTRA OS POVOS INDÍGENAS !

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